A avaliação de investidores internacionais sobre a economia brasileira ganhou destaque recentemente, com a consultoria BCA Research emitindo um relatório impactante no dia 14 de outubro. O estudo, intitulado "Brasil: não vale o risco", identifica diversos desafios fiscais, cambiais e de crescimento que o país enfrentará nos próximos meses. A recomendação da BCA é clara: o mercado brasileiro deve ser evitado em comparação com outras economias emergentes.
Atualmente, a economia do Brasil enfrenta um panorama que exige atenção especial. A análise da BCA Research destaca a interação de fatores estruturais e conjunturais que levam muitos investidores a reconsiderar seu engajamento no país. Um dos principais alertas é o aumento contínuo da dívida pública em relação ao PIB. Mesmo com medidas fiscais modestas como o recente contingenciamento de 0,26% do PIB e um esforço para aumentar a arrecadação em 0,15% do PIB, o déficit primário não impedirá o crescimento da dívida.
Cenários que são considerados otimistas pelo governo ainda indicam uma tendência de aumento na relação dívida/PIB até, pelo menos, 2028. Essa situação se deve em grande parte ao cenário de juros reais elevados e baixo crescimento econômico. A BCA indica que, enquanto os juros reais permanecerem superiores ao crescimento do PIB nominal, a dívida continuará aumentando.
Em relação ao crescimento econômico, embora o mercado projete um aumento de 2% para 2025, a BCA antecipa uma desaceleração significativa da economia brasileira dentro de um período de seis a nove meses. Isso se dá pela combinação de elementos como os efeitos defasados da política monetária rígida iniciada em 2024, cortes nos gastos públicos em termos nominais, aumento da inadimplência das famílias e a queda nos preços das commodities, que impactam negativamente as exportações. Além disso, uma possível desvalorização do real pode pressionar a inflação e fazer com que o Banco Central mantenha uma postura conservadora por mais tempo.
A análise também coloca o real entre as moedas emergentes mais suscetíveis, evidenciando um duplo déficit (fiscal e em conta corrente). A dependência da exportação de commodities primárias, a saída de capitais estrangeiros e a carga elevada em ativos de portfólio somam-se aos fatores que pressionam a moeda brasileira. Apesar das previsões de um dólar enfraquecido, a BCA considera que o real pode continuar oscilando ou se desvalorizar frente a outras moedas emergentes com superávits.
Em termos políticos, tanto o governo atual quanto uma potencial administração de direita em 2027 encontrariam obstáculos para implementar os cortes de gastos que são necessários para estabilizar a dívida. A consultoria observa que mesmo sob governos anteriores que buscavam uma abordagem mais ortodoxa, como os de Michel Temer e Jair Bolsonaro, não houve uma redução sustentável da dívida pública. Com a popularidade do presidente Lula em queda e as eleições se aproximando, é esperado um aumento da pressão por gastos populistas. Isso levanta a questão da viabilidade de ajustes fiscais rigorosos por parte de uma possível administração mais liberal.
Nesse contexto, a BCA Research aconselhou cautela ao considerar investimentos no Brasil. O mercado acionário, por exemplo, deve ficar atrás de outros emergentes em virtude do baixo crescimento e dos riscos fiscais. No segmento de títulos, embora o mercado local tenha suas vantagens, a recomendação é adotar uma posição abaixo da média para os títulos brasileiros e também para o crédito soberano, devido à fragilidade da saúde fiscal do país. Quanto à moeda, espera-se que o real continue sob pressão frente ao dólar e a outras moedas emergentes mais resilientes.
Apesar dos desafios, a única perspectiva positiva mencionada pela análise refere-se ao potencial de taxas de swap de dois anos, baseando-se na expectativa de que o Banco Central venha a reduzir juros em resposta à desaceleração da economia.
Essa análise da BCA Research apresenta uma visão crítica e importante para investidores que observam o Brasil. Embora não projete um colapso imediato, o estudo evidencia que os desafios fiscais e externos são concretos, persistentes e complexos de serem resolvidos. Em um cenário global cada vez mais seletivo, onde os investidores demandam mais dos mercados emergentes, o Brasil parece ser deixado de lado. O alerta emitido pela BCA Research é claro: "Brasil: não vale o risco".
Fonte:https://investidor10.com.br/noticias/brasil-nao-vale-o-risco-a-dura-avaliacao-estrangeira-sobre-a-economia-brasileira-114168/