Carrefour Brasil Deixa a Bolsa: Entenda os Motivos por Trás da Despedida Após Anos de Desafios

Após oito anos de operações, o Carrefour Brasil (CRFB3) encerrou sua relação com a B3 (B3SA3) na última sexta-feira (30), registrando uma significativa perda de 44% em seu valor de mercado desde a abertura de capital em 2017. Com essa mudança, o grupo francês recupera o controle total sobre suas operações no Brasil, retirando a empresa do mercado de ações local.

A decisão de sair da bolsa brasileira é um reflexo dos desafios enfrentados ao longo dos anos, que vão desde a empolgação inicial com um IPO bilionário até os resultados aquém do esperado, resultando em uma queda gradual das ações e uma perda de competitividade em relação a rivais significativos no setor de atacarejo.

**Uma Estreia Promissora que Se Tornou Decepcionante**
O IPO do Carrefour Brasil, que atingiu R$ 5,1 bilhões em 2017, foi amplamente celebrado como a maior abertura de capital do Brasil em quatro anos. Naquela época, o Atacadão, principal divisão do grupo, era visto como a chave para dominar um mercado em expansão, especialmente com consumidores buscando alternativas mais baratas durante um período de inflação crescente. Este cenário favorável levou a ações CRFB3 a uma máxima histórica de R$ 23,17 em 2022.

Entretanto, uma série de decisões estratégicas controversas e mudanças no ambiente macroeconômico começaram a impactar negativamente a avaliação da empresa.

**Aquisição do Grupo BIG: Uma Jogada Arriscada**
Um ponto crítico na trajetória da empresa foi a aquisição do Grupo BIG, ex-Walmart Brasil, por R$ 7,5 bilhões. Inicialmente, esse movimento foi considerado uma estratégia ousada para fortalecer a presença no mercado de varejo alimentar, mas a integração revelou ser mais complexa do que o esperado. Com fechamento de lojas e prejuízos recorrentes, a eficiência operacional foi severamente afetada. No primeiro trimestre de 2023, o Carrefour Brasil reportou um prejuízo de R$ 375 milhões, o primeiro desde o IPO, e a margem EBITDA caiu drasticamente de 4,4% para 2,1%.

Enquanto isso, concorrentes como Assaí (ASAI3) e Pão de Açúcar (PCAR3) ampliaram suas fatias de mercado. O Assaí acelerou sua expansão no atacarejo, enquanto o Pão de Açúcar focou em clientes premium e reestruturou suas operações.

**Crises Institucionais e Impacto no Mercado**
Além das dificuldades financeiras, uma crise institucional em 2024 impactou ainda mais a marca, quando uma declaração do CEO global do Carrefour, Alexandre Bompard, sobre a interrupção da compra de carne de países do Mercosul, incluindo o Brasil, gerou reações adversas no mercado, levando a boicotes e pressão diplomática. Essa ação resultou em um recuo público da empresa, deteriorando ainda mais sua imagem no mercado brasileiro.

**A Transição para BDRs e Fim da CRFB3**
Com o fraco desempenho das ações e as dificuldades de operação, a matriz francesa decidiu simplificar sua estrutura, adquirindo os 30% restantes das ações ainda em circulação na B3. As ações CRFB3 foram retiradas do mercado e convertidas em BDRs da matriz listada em Paris, Carrefour S.A. (CSA). Os acionistas tiveram três opções: receber 100% em dinheiro, uma combinação de dinheiro e BDRs, ou trocar 100% das ações por BDRs.

Os acionistas que não optaram por nenhuma alternativa prévia receberam BDRs da Carrefour S.A., que já estão em negociação na B3. Para aqueles que escolheram as BDRs, há ainda a promessa de dividendos: 0,92 euro por ação ordinária e um adicional de 0,23 euro por ação, a serem pagos em 3 de junho, embora os valores estejam sujeitos à variação cambial e descontos de impostos.

Fonte:https://investidor10.com.br/noticias/carrefour-brasil-da-adeus-a-bolsa-veja-o-que-motivou-a-saida-apos-anos-de-perdas-113272/