Nos últimos anos, o cenário financeiro brasileiro tem testemunhado um fenômeno bastante expressivo: a saída de empresas da B3, a bolsa de valores do Brasil. Marcas notáveis, como Carrefour Brasil e JBS, têm optado por encerrar suas operações na bolsa ou transferir suas listagens para o exterior. Mas quais são os fatores que impulsionam essa mudança?
Para compreender essa movimentação, é essencial saber o que implica em deixar a autarquia da bolsa. Quando uma empresa decide fechar seu capital, as negociações de suas ações de forma pública são encerradas. Esse processo costuma ocorrer através de uma Oferta Pública de Aquisição (OPA), onde o controlador adquire as ações em circulação, convertendo a empresa em uma sociedade de capital fechado.
**Custos e Flexibilidade na Gestão**
Manter uma empresa listada implica em custos consideráveis. As despesas relacionadas a auditorias, governança, divulgação de resultados e conformidade às normativas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tornam essa opção menos viável. Ao se retirarem da bolsa, as companhias conseguem não apenas reduzir esses custos, mas também se tornam mais ágeis em suas decisões estratégicas, longe da pressão do mercado e da exigência de resultados trimestrais. Para ilustrar, estimativas indicam que grandes varejistas de capital aberto podem desembolsar anualmente mais de R$ 20 milhões apenas em auditorias e compliance.
Essa combinação de fatores impõe uma pergunta: será que os benefícios de estar listado na bolsa, como um custo de capital reduzido, maior visibilidade e valorização das ações, compensam as despesas operacionais e regulatórias? Quando a resposta é negativa, empresas, como já observamos, tendem a buscar alternativas mais vantajosas fora do mercado local.
**Valorização das Ações e Retorno ao Capital Fechado**
A desvalorização das ações é outro aspecto relevante a se considerar. Quando o valor de mercado de uma ação está significativamente abaixo do que os controladores acreditam ser justo, torna-se mais lógico realizar a recompra das ações e fechar o capital. O Carrefour Brasil, por exemplo, viu suas ações desvalorizarem 44% desde sua estreia na bolsa em 2017, levando sua matriz a decidir comprar o restante das ações e torná-la uma subsidiária integral.
**A Internacionalização das Empresas**
Empresas com controladores estrangeiros representam uma parcela significativa das que saem da B3. A busca por operações mais simples e a presença em mercados internacionais frequentemente motivam essas organizações a focarem suas atividades em bolsas de valores fora do Brasil, como a Bolsa de Nova York ou a de Paris. A JBS exemplifica bem essa tendência, ao mudar sua listagem para a NYSE e operar no Brasil somente por meio de BDRs.
**Reestruturações e Fusões**
Uma ampla gama de fusões e reestruturações também têm influenciado o fechamento de capital. Um exemplo é a Santos Brasil, que recebeu uma oferta da CMA CGM, resultando numa OPA para aquisição de ações de acionistas minoritários. A Wilson Sons trilhou um caminho semelhante após ser adquirida pela MSC Mediterranean Shipping Company. Dados da corretora Ágora revelam que há atualmente nove empresas na B3 com controladores estrangeiros que podem seguir essa tendência, incluindo Ambev, Telefônica Brasil, TIM e Neoenergia.
**Desafios Econômicos**
O cenário macroeconômico brasileiro contribui para esse movimento. Altos índices de juros, baixo crescimento e volatilidade tornam o ambiente menos convidativo tanto para novas aberturas de capital quanto para a permanência das empresas na bolsa. Como resultado, muitas têm priorizado a recompra de ações como forma de recuperar valor. Em 2025, mais de 120 empresas na B3 implementaram programas de recompra, com objetivos diversos: sinalizar confiança na empresa, utilizar capital ocioso e aumentar o lucro por ação (LPA), entre outros.
**Implicações para Investidores**
Para os investidores indivíduos, tanto a saída de capital quanto as recompras de ações acarretam implicações significativas. Por um lado, há oportunidades de vender ações com um prêmio em relação ao preço de mercado; por outro, existem riscos associados à falta de liquidez e ao potencial de não conseguir negociar ações conforme desejado. Tais movimentações também revelam uma nova perspectiva sobre o ambiente de negócios no Brasil, onde o real valor de muitas empresas pode estar sendo subestimado.
**A Saída Não Equivale a Fraqueza**
Os dados da Ágora indicam que o número de empresas na B3 caiu em 13% nos últimos 20 anos, mas esse fenômeno não é exclusivo do Brasil. Mercados como o dos Estados Unidos também registram tendência similar. Além disso, nos últimos anos, 17 empresas brasileiras optaram por abrir capital nos EUA. Portanto, a diminuição de empresas no cenário da bolsa brasileira não deve ser interpretada como um sinal de fraqueza. Acompanhar esses desenvolvimentos pode auxiliar na identificação de investimentos com alto potencial.
Fonte:https://investidor10.com.br/noticias/por-que-tantas-empresas-estao-abandonando-a-b3-entenda-o-que-esta-por-tras-dessa-fuga-113983/